Em comemoração ao Dia Nacional do Cerrado, celebrado nesta quinta-feira (11), o Projeto Bioca – Biodiversidade e Cadeias Produtivas: sustentabilidade socioeconômica no Nordeste Goiano promoveu a live “Cerrado em Chamas: A luta pela água e pela vida no coração do Brasil”, transmitida pelo Instagram da Agrobio. O evento reuniu professores, pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes de organizações socioambientais para debater os desafios enfrentados pelo bioma e as estratégias de resistência e conservação.
A mediação foi conduzida pelo professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Adriano Rodrigues de Oliveira, que destacou a importância do Cerrado como “caixa d’água do Brasil”, ressaltando que o bioma abriga nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas do país. Ele lembrou ainda que o Cerrado sofre forte pressão do agronegócio, da mineração e das queimadas, e que o evento buscou amplificar as vozes de quem o defende e pressionar por políticas públicas.
O professor da UFG Manuel Eduardo Ferreira apresentou um panorama científico da degradação, revelando que 51% do Cerrado já foi perdido e que outros 20% encontram-se degradados. Ele alertou para a velocidade do desmatamento, de 800 mil a 1 milhão de hectares por ano e defendeu alternativas como a recuperação de pastagens degradadas, a regeneração natural e o manejo integrado para conciliar produção e preservação.
O pesquisador da Fiocruz, Guilherme Franco Neto, trouxe a perspectiva da saúde, ressaltando que 25% dos problemas globais têm origem em disfunções ambientais e que a mudança climática é hoje “a maior ameaça à saúde”. Ele enfatizou que os impactos recaem sobretudo sobre os povos e comunidades tradicionais, defendendo soluções construídas de forma participativa, com valorização do conhecimento ancestral e das práticas sustentáveis.
Coordenador-geral do projeto Bioca e professor da UFG, Marcelo Rodrigues Mendonça destacou que o Cerrado é fundamental para a regulação climática e a biodiversidade, desconstruindo a visão histórica do bioma como “pobre e improdutivo”. Apresentou o Projeto Bioca, que alia restauração ambiental e inclusão produtiva de comunidades locais, e citou o exemplo do território quilombola Kalunga, que mantém mais de 80% do Cerrado conservado. Para ele, é possível um modelo de desenvolvimento baseado no “Cerrado em pé”, mas isso exige políticas públicas efetivas e maior fiscalização contra crimes ambientais.
Os participantes reforçaram que defender o Cerrado é defender a água, a cultura e a vida. A data de 11 de setembro foi ressaltada como uma oportunidade de dar visibilidade à luta dos povos cerradeiros e reafirmar a urgência de políticas públicas eficazes para a conservação do bioma.
A iniciativa contou com a parceria de instituições e organizações fundamentais para a defesa do Cerrado e de seus povos: a Fiocruz; a Universidade Federal de Goiás por meio do Laboter, Lapig e IESA; a Associação Quilombola Kalunga (AQK) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Cerrado.




